Muitas pessoas, quanto compram um filhote, estão enxergando apenas uma bolinha de pelos, engraçadinha e divertida, simplesmente adorável! Mas existe muito por trás desta coisinha fofa do que supõe a nossa vã filosofia.
Só para começar, você já pensou em que tipo de raça é a mais adequada ao seu estilo de vida? Já pensou quem é que vai ter que levar o cachorro para passear (pelo menos 3 vezes ao dia) faça sol ou faça chuva? Quem será o responsável pela alimentação e a limpeza dos “presentinhos” que vão aparecer eventualmente (talvez no seu tapete persa)? Um conselho: pode esquecer daquela promessa das crianças de que elas farão tudo sem reclamar.
Antes de você se apaixonar pela idéia de comprar um cãozinho para você ou para suas crianças, leve em consideração alguns pontos importantes para que você, sua família e o cãozinho não se arrependam mais tarde:
Qual a melhor raça para mim e minha família?
Procure se informar com treinadores profissionais e criadores sobre as características das raças que te parecem atraentes. Leve em consideração:
O tamanho do cachorro adulto e o espaço que você tem disponível (um Dog Alemão ou Fila Brasileiro podem se tornar um problema dentro de um quarto e sala);
Temperamento com crianças (Terriers e cachorros miniaturas são conhecidos pela falta de paciência com os movimentos bruscos de crianças pequenas);
Os cuidados necessários com o pelo (se você não quer gastar horas do seu tempo escovando Rex, melhor esquecer dos Collies ou Old English Sheepdogs. Mas não se esqueça que todos os cachorros soltam pelos, bem, talvez com exceção dos Pelados Mexicanos!);
A necessidade de exercícios para manter boa saúde física e mental. Cães originalmente criados para caçar (por exemplo Labradores, Fox Terriers, Pointers, Setters, Weimaraners e Beagles), demandam uma quantidade de exercícios que talvez você não consiga manter. A falta de exercício adequado vai resultar em destruição de papéis, sapatos, sofás, tapetes e de tudo que puder distrair um cachorro entediado;
Se você não pretende treinar o seu cachorro e não está pensando em calçar seus patins e ser arrastado pelo meio da rua, melhor esquecer cachorros que foram desenvolvidos para trabalhos pesados como por exemplo Malamutes do Alaska, Huskies Siberiano e Rottweillers.
Fêmea ou macho?
Esta é uma decisão muito particular, mas que deve ser levada em conta por toda a família. As fêmeas tendem a ser mais calmas e dóceis, menos agressivas e dominantes, além disso, tendem a ter uma massa corpórea menor do que os machos da mesma raça. Por outro lado, existe o cio (período em que a cadela está pronta para acasalar), que acontece, aproximadamente, de seis em seis meses e que pode causar algum problema. Principalmente se você tem estofados e tapetes brancos. Já os machos apresentam maior tendência a “marcar” o território deles com urina (que pode ser o pé da sua mesa de jacarandá, ou talvez a sua geladeira importada), além de “montar” (quando o cachorro fica agarrando pernas, braços, tapetes ou qualquer coisa na qual eles possam se esfregar), que se não for corrigido desde cedo pode se tornar um hábito bastante constrangedor para os donos da casa;
Filhote ou Adulto?
Filhotes são fofos e bonitinhos, mas também são um bocado de trabalho. Se você não tem tempo, ou não esta disposto a passar algumas noites sem dormir com o choro de um filhote, não quer conviver com o período de dentição em que os filhotes naturalmente roem tudo o que for permitido e estiver ao alcance, se você passa muitas horas por dia fora de casa e treinar o seu bichinho a fazer xixi e cocô no lugar certo vai ser um problema, pense na possibilidade de adotar um cachorro crescido e que não teve sorte na vida até agora.
Cachorros adultos podem ser excelentes companhias, mesmo que não tenham sido criados pelo donos definitivos. Muitos deles têm um verdadeiro sentido de gratidão pelos novos “pais” adotivos e são extremamente dóceis e obedientes. Existem algumas entidades, ou voluntários, que recolhem cachorros abandonados e tentam uma recolocação destes animais em lares conscienciosos e responsáveis. Considere uma visita a estes abrigos e converse com os responsáveis. Peça informações específicas sobre o cachorro que lhe interessar. Porque e como ele foi parar no abrigo, se apresenta alguma doença no momento ou se eles sabem de alguma doença no passado. Se o cachorro é tolerante com crianças, estranhos e outros animais. Grupos e entidades sérias nunca irão mentir para você, pois o maior interesse deles não é o de arranjar um lar qualquer para o cão, mas arranjar o lar certo, com os donos certos e o cachorro certo. Na grande maioria dos casos estes cachorros se adaptam muito bem ao novo lar e quando apresentam algum problema de comportamento, são facilmente resolvidos com a orientação de um treinador profissional, muito amor, carinho e paciência.
Se você quer mesmo um filhotinho, com raça definida e pedigree, esteja atento para doenças genéticas. Algumas destas doenças como por exemplo a displasia coxo-femural são mais comuns em determinadas raças do que em outras. Procure comprar seu filhote de um criador profissional. Evite comprar de lugares onde os filhotes ficam isolados em pequenas gaiolas sem contato com outros filhotes, com seres humanos, ou quando não puderem comprovar a procedência destes animais. Evite os que deixam os filhotes em lugares sujos ou onde eles recebem poucos estímulos. Não compre se você não puder receber garantias de que o filhote está livre de doenças, vermes e outros parasitas. Pergunte se o filhote tem as vacinas em dia e se já foi vermifugado. Peça para ver a mãe e o pai de se filhote. Analise o comportamento da mãe em relação aos filhotes e as pessoas, fique atento para sinais de agressividade excessiva (lembre-se no entanto que muitas fêmeas demonstram pouca tolerância a estranhos perto de seus filhotes). Observe se a mãe mantém o “ninho” limpo e arrumado. Filhotes que aprendem com a mãe a serem limpos são muito mais fáceis de treinar a fazer xixi e cocô fora de casa. Observe os filhotes em grupo e individualmente. Prefira os que não são muito dominantes (estão sempre montando nos irmãos e mordendo pés e orelhas) e os muito submissos (estão sempre sendo atacados pelos irmãos ou então estão isolados num canto). Definitivamente esqueça aqueles que tentarem te morder no rosto ou rosnar para você. Escolha com calma, não tenha pressa, afinal você está escolhendo um amigo que vai compartilhar com você a sua casa e sua vida pelos próximos 10 a 15 anos.
Quanto custa?
Outros pontos a serem considerados antes da compra ou adoção de um filhote são os custos. Ponha no papel os gastos com ração, veterinários, vacinas, banho e tosa se você estiver pensando numa destas raças que exigem atenção extra com o pelo, brinquedos, coleiras, shampoos e remédios. Pense também o que você vai fazer nas férias quando todos gostam de viajar mas nem sempre é possível levar o seu amiguinho. Lembre-se quem nem sempre pais, amigos e vizinhos estão disponíveis. Para a nossa sorte existem excelentes hospedagens em quase todas as grandes cidades do Brasil. Procure visitar algumas, antes que você precise deixar o seu cachorro hospedado numa emergência.
É permitido?
No caso de você morar em apartamento ou estar pretendendo se mudar para um, confira antes na convenção do condomínio se existem proibições quanto a posse de animais, restrições a tamanhos ou raças. Avise aos vizinhos do andar, peça a compreensão deles pelas primeiras semanas de adaptação do filhote e não esqueça de apresentar o seu filhotinho quando ele chegar. Quem vai ter coragem de reclamar se já tiver feito amizade com aquela simpática bolinha de pelos que abana o rabo tão alegremente (não se esqueça, com cachorros e vizinhos, é melhor prevenir do que remediar!).
E a segurança?
Torne a sua casa a prova de filhotes. Pense na segurança do seu novo amiguinho. Certifique-se de que ele não vai cair da sacada ou da escada. Tire todos os medicamentos e produtos químicos de armários ou locais em que seu filhote possa fuçar. Lembre-se que vidros a prova de crianças não são a prova de dentes afiados e curiosos. Retire objetos que são muito valiosos, acidentes acontecem!
Cuidado com o “monstro” que você pode criar.
Não permita nada ao seu filhote que você não permitiria a ele quando adulto. É lindo um filhotinho de Pastor Alemão enroladinho no seu travesseiro, mas é uma briga de foice tirar um cachorro de 50 quilos da sua cama numa noite de verão quando ele acha que o seu quarto é o único com ar condicionado forte o bastante. Não deixe as crianças alimentarem Rex na mesa com aquele pedacinho de fígado que ninguém gosta mesmo, se você não quiser ter um cachorro se esganiçando do lado do chefe do seu marido quando você oferecer um jantar em comemoração a promoção tão esperada. É uma gracinha o seu Poodle Toy te “defendendo” do namorado abusado, mas não é nada divertido quando o mesmo cachorrinho der uma dentada na sua pequena sobrinha que só ia te dar um abraço. Pense bem, use o bom senso e sua bola de cristal e preveja as conseqüências destes comportamentos no futuro. Prevenir, prevenir, prevenir. Esta é a palavra chave.
É preciso treinar?
Finalmente, considere levar o seu filhote (o ideal é entre 2 e 6 meses de idade) para aulas de socialização com um treinador profissional. Cachorros que aprendem a se comportar em público, no meio de outros cachorros, pessoas e ambientes diferentes são muito mais calmos, controlados e fáceis de se conviver.
Obs.: A socialização de filhotes deve ser feita em ambientes controlados e seguros, por um treinador profissional, onde só filhotes participem e cujo foco principal é dono, familiares e filhotes se conhecerem melhor e dividirem novas experiências. Treinamento formal onde punições estão envolvidas como correção devem ser evitadas até que o cachorro complete pelo menos 6 meses.
Ter um filhote, e mais tarde um cachorro adulto e idoso, é muito trabalho e grande responsabilidade, mas também é uma das experiências mais gratificantes que podemos ter.