Bulldogue Inglês

História e Características Gerais da Raça
Se você encontrar o orgulhoso proprietário de um Bulldogue, por favor não diga coisas como “nossa que cachorro feio!” ou “de tão feio ele é até bonito”. Provavelmente o dono irá ficar muito chateado, não só pelo fato do comentário ser pouco polido, mas porque por detrás desta carinha que só uma mãe pode amar existe muita história e razão de ser.

O Bulldogue Inglês foi desenvolvido em meados século 16, na Inglaterra, como um cão de espetáculo que enfrentava touros e ursos nas arenas sangrentas da época, onde os homens faziam suas apostas. Criados para serem fortes e obstinados nas lutas, estes cães pegavam os touros pelo nariz e não soltavam de jeito nenhum, mesmo quando os animais os sacudiam furiosamente de um lado para o outro.
A baixa estatura dificultava que eles fossem chifrados pelos touros, o focinho empinado para trás permitia que eles respirassem, mesmo tendo o touro preso pela boca. Aliás, o maxilar inferior sendo maior do que o superior (nosso adorável “boca de gaveta”), também facilitava a inclinação no nariz e, principalmente, a pegada do cão que acontecia de baixo para cima, encaixando perfeitamente nas narinas do touro. E as ruguinhas? As ruguinhas serviam para “escoar” o sangue do animal pela lateral da face do cão, evitando que o cachorro ficasse com os olhos “embaçados”.

No período Elizabethano as brigas eram ainda mais selvagens, quando normalmente três Bulldogues eram postos para lutar contra um urso ou quatro contra um leão.

Os cães usados naquela época para este tipo de luta eram maiores do que o Bulldogue atual e eram chamados de Bandogges. Acredita-se que o desenvolvimento da raça atual começou com vários cruzamentos entre Mastiffes e os Bandogges. A partir daí muitos outros cruzamentos foram sendo realizados até se chegar ao Bulldogue que conhecemos hoje. Os melhores frutos destes cruzamentos parecem ter vindo de Londres, Birminghan e Sheffield, na Grã Bretanha.

No início do século 19 as lutas entre cães e animais foram proibidas na Inglaterra e os Bulldogues passaram a ser vendidos e criados para brigar com outros cães. Em 1840 a raça foi cruzada com o Pug, um cachorrinho vindo da China que possui basicamente as mesmas características físicas do Bulldogue atual, porém numa versão bastante reduzida.

Em 1914, início da Primeira Guerra Mundial, haviam mais de 12.000 Bulldogues que gozavam de uma vida confortável e tranqüila, junto de seus donos ingleses. No entanto, durante a guerra muitas dificuldades surgiram. A primeira delas era a necessidade de uma licença especial (e por sinal muito difícil de se conseguir) para que os criadores pudessem continuar a criar cães. Além disso, com a dificuldade para se conseguir comida para alimentar os cães, e até mesmo as pessoas, a população de Bulldogues foi reduzida em aproximadamente 50%, onde muitos eram sacrificados e poucos podiam procriar. No final da Segunda Guerra Mundial a raça já se recuperava, chegando a 2/3 da sua antiga população.

Nos Estados Unidos a raça chegou bem cedo. Já em 8 de abril de 1774 o Governador Dunore, da Virgínia, colocava anuncio no jornal local avisando que seu Bulldogue havia sido roubado. Em compensação, sua primeira aparição na mais famosa competição de conformação e beleza do mundo, o Westminster Kennel Club Show, só aconteceu em 1877 e só no início do século 20 é que eles passaram a realmente ser criados nos Estados Unidos.

Atualmente os Bulldogues são muito diferentes dos Bulldogues originais. Tanto na aparência como no comportamento. Graças a um programa cuidadoso de criação e da escolha criteriosa dos cães usados para criação, o Bulldogue atual não é mais agressivo, seja contra animais ou contra pessoas. É justamente por ter esta cara única e este temperamento tão amigável que o Bulldogue tem sido escolhido como mascote símbolo de muitas universidades e instituições, principalmente nos EUA.

Entre elas estão Universidade de Yale, o Corpo de Fuzileiros (Mariners), Universidade de Minnesota e da Georgia para citar algumas.

Além do Bulldogue Inglês, existem ainda o Buldogue Francês (originalmente desenvolvido a partir de Bulldogues anões), o Old English Bulldogue (um “recriação” do Bulldogue original do século 18) e o Bulldogue Americano (mesmas características físicas do Bulldogue original, mas com propriedades de trabalho como vigia da fazenda e guardião dos rebanhos).

O Bulldogue não é especial apenas na sua aparência. Esta raça também requer cuidados extras, principalmente para quem está pensando em reprodução.

Para começar, o focinho extremamente curto dificulta a respiração, principalmente em dias quentes e úmidos. O dono deve estar sempre atento a sinais de cansaço e uma possível insolação.

Além disso os Bulldogues estão mais sujeitos a ter um problema comum em cães “enrugadinhos”, chamado entrópio. Entrópio é uma condição muito dolorosa em que os cílios nascem virados para dentro dos olhos. Se não for tratado a tempo este problema pode causar úlcera na córnea e até cegueira. Também por conta das dobrinhas, é muito comum ver estes cães com problemas de peles, principalmente na cabeça, onde a umidade causa irritações que acabam desenvolvendo infecções. A limpeza regular das dobrinhas, segundo orientação do veterinário pode prevenir estas irritações.

Por ser um cachorro muito pesado para sua altura, é necessário também ter cuidado para o cachorro não engordar demais e comprometer ainda mais os problemas nas juntas que acometem a raça. Displasia nos joelhos, cotovelos e coxo-femural são comuns.

Se você está pensando em ter um Bulldogue, ou se você já tem e pretende cruzá-lo, é bom conversar primeiro com seu veterinário e também com criadores experientes.

A anatomia do Bulldogue não favorece o coito e nem o parto. A cabeça muito grande, as pernas curtas e os excesso de peso muitas vezes dificultam e o macho não consegue cobrir a fêmea. Além disso é muito comum que os “noivos” fiquem cansados e com falta de ar, antes de consumar o namoro. Para tentar ajudar a manter a raça viva o uso de métodos de inseminação artificial costumam ser empregados.

Na hora do parto é outro problema. Segundo criadores e veterinários, 94% dos partos são realizados por cesariana, já que a cabeça muito grande do filhote não passa pelo quadril relativamente estreito da fêmea. Para piorar ainda mais a situação, a raça é muito resistente a dor e portanto as fêmeas ignoram os sinais da natureza para “expulsar” os filhotes.

Um dos problema com a cesariana é que muitas fêmeas, por não estarem com os todos os hormônios funcionando, tendem a recusar os filhotes nas primeiras 48 horas, que sem dúvida nenhuma é um período crítico para qualquer filhote. O tempo entre o nascimento dos filhotes e a aceitação da mãe vai depender muito do período da gestação em que a cesariana foi feita. Quanto mais próxima da hora do parto natural, menor a chance de rejeição.

Tamanho:
Embora a altura destes cães não conste do padrão da raça, a média de altura é entre 30 cm e 35 cm (na cernelha), sendo que as fêmeas costumam ser ligeiramente menores que os machos.

Peso:
O peso ideal para os Machos, segundo a Federação Internacional de Cinofilia (FCI) é entre 24 e 25 quilos); Fêmeas entre 22 e 23 quilos. O padrão do American Kennel Culb (AKC) favorece os cães menores: Machos com cerca de 22 quilos e fêmeas com 18 quilos.

Aparência:
Corpo compacto, sólido, baixo e de aparência quadrada; com movimentos “rebolativos”.

Pelagem e Cor:
Pêlo baixo e rente ao corpo, curto, brilhoso e liso; com a pele tonalidades de vermelho, tigrado, branco ou com marcas brancas sobre qualquer uma das cores. Fígado, preto, e preto com marcas castanhas são indesejáveis. A máscara e o focinho podem ser negros.

Cabeça:
Crânio grande, testa chata, com um focinho curto e largo; Olhos baixos, redondos, escuros e bem afastados; as orelhas são pequenas, bem afastadas, e finas.

Cauda:
A cauda é curta, grossa, afinalada, reta ou bem encaracolada.

Expectativa de vida:
de 08 a 10 anos.

Perfil da Raça
Você é um atleta? Adora correr, pedalar, nadar e caminhar por trilhas por horas a fio?

Você sempre quis ter um cão de guarda que botasse todo mundo pra correr?

Se você respondeu “sim” a qualquer uma destas perguntas, então o Bulldogue não é o cachorro certo para você.

Buldogues são bonitos, são charmosos, e preguiçosos.

O focinho muito curto dificulta a respiração e limita sua capacidade de exercícios, mas até que eles gostam de caminhadas tranqüilas ao lado de seus donos, desde que seja numa hora bem fresquinha e sem pressa.

Quando filhote eles adoram brincar e na medida em que crescem eles se tornam extremamente pacientes e tolerantes. Por isso mesmo são ótimas companhia para crianças e toleram praticamente todo o tipo de abuso que uma criança pequena pode infligir a um animal. Quando chegam a idade adulta eles são afetuosos, ótimos no convívio com outros animais, calmos, dificilmente aceitam provocações. São quietos, praticamente não latem, adoram ficar deitados o dia todo e se tornam o companheiro ideal para pessoas idosas.

Os apreciadores da raça costumam defini-los como verdadeiros “palhaços” no dia-a-dia. Devido a sua grande paciência e cooperação, Bulldogues aceitam todo o tipo de brincadeira, desde ser fantasiado até servir de carpete para uma super massagem nos pés. Só não espere que ele vá buscar a bolinha de tênis para você ficar jogando novamente como um maluco. Não, Bulldogues acham que este tipo de atividade é inútil e muito abaixo do grau mínimo de dignidade deles. Deixe este tipo de brincadeiras para os Goldens e para os Labradores. Aquelas carinhas bonitas.

Por falar em carinha bonita, Bulldogues são péssimos cães de guarda, já que adoram todo mundo, mas a cara invocada que eles têm ajuda muito a manter os estranhos afastados. Na verdade, se um Bulldogue demonstrar seus verdadeiros dotes de cão de guarda provavelmente será em relação ao prato de comida dele. Quando a conversa é comida eles podem se tornar super protetores.

Eles se adaptam muito bem a vida de apartamento, já que não precisam de muitos exercícios e também não costumam latir. Isso não quer dizer que você viverá num monastério, um lugar de silêncio absoluto. Pelo contrário. Eles podem não latir, mas possuem uma gama infinita de barulhinhos estranhos. Por exemplo: Eles roncam, eles babam, eles gorgolejam, e por causa da maneira como eles respiram engolindo ar, eles se são particularmente flatulentos.

Como qualquer cachorro eles se beneficiam de treinamento para obediência básica, uma vez que eles tenham aprendido o comando eles irão lembra-los com uma certa alegria.

Apesar de ser tão amável, vale ter um pouco de cuidado com a tendência da raça ser teimosa, persistente e levemente dominante, desafiando volta e meia a autoridade de seu dono.

No livro The Intelligence of Dogs de Stanley Coren o Bulldogue ocupa a 77ª posição entre as raças pesquisadas. Ainda segundo o autor, isto significa que eles são considerados extremamente difíceis de serem treinados para executar tarefas. Normalmente são necessárias de 30 a 40 repetições de simples comandos, no início do treinamento, para que eles comecem a demonstrar alguns sinais de que estão entendendo o que se espera deles. Não é raro que estes cães precisem executar mais de 100 vezes um comando de forma correta, antes de se tornarem confiáveis na sua performance.

O treinamento de obediência básica normalmente deve ser estendido por várias sessões, e mesmo assim eles podem parecer lentos e desinteressados na conclusão dos comandos. Uma vez que estes cães tenham absorvido totalmente o comando, será necessário manter o treinamento periodicamente, uma vez que eles parecem “desaprender” numa velocidade muito grande. Na verdade, se o treinamento não for mantido, eles darão a impressão de que nunca aprenderam nada.

Alguns juizes e treinadores costumam dizer que eles são “intreináveis”, mas outros afirmam que na maioria das vezes o treinador e/ou o dono não tiveram a paciência e a persistência de manter o treinamento por tempo suficiente afim transformar os comandos de obediência em hábito de comportamento.

Eles tendem a reagir com algum interesse em menos de 25% das vezes em que um comando lhes é dado e não raro eles simplesmente dão as costas aos seus treinadores, como que se estivessem desafiando a autoridade destes.

Obs.: O gráfico acima é o resultado de um estudo realizado por Benjamin L. Hart e Lynette A. Hart, veterinários e Phd’s em comportamento animal, que entrevistaram dezenas de veterinários, treinadores e juizes de competições de obediência nos EUA.

© LordCão Treinamento de Cães 2009