Adotando um focinho carente: como começar uma nova vida

Se você optou por adotar um filhote, provavelmente ele não faz idéia do que aconteceu a sua volta, e mesmo que faça, tem condições de superar tudo rapidamente. Se ele estava com a mãe e era bem pequeno, o que aconteceu não fará grande diferença em seu temperamento. O mesmo vale para os já maiorzinhos, mas que tiveram o mínimo de atenção e suporte durante o resgate. Estes deverão ser criados da mesma forma que um filhote adotado ou comprado em situação normal. O único caso mais complicado é se ele tiver sido separado da mãe e dos irmãos antes dos 50 dias. Aí ele poderá demonstrar algum dos comportamentos típicos de filhotes nesta situação (infelizmente muita gente, e até supostos criadores, separam os filhotes muito cedo, mesmo em um contexto tranquilo). Normalmente estes filhotes são mais ansiosos e mais dependentes, mordem muito as mãos e os pés das pessoas, têm mais dificuldade para aprender o lugar do xixi e a conseguir ficar sozinhos. Esses problemas deverão ser encarados com calma e, se preciso, com ajuda de um bom profissional.

Já no caso dos adultos, eles precisam muito de nossa ajuda, pois são muitos, e menos gente se interessa por eles, mesmo sendo uma melhor opção em muitos casos. Neste caso, devemos lembrar que não sabemos como foi a criação dele, que condições de vida teve, e quais experiências passou, por isso é muito importante dar a ele (e a você) as melhores condições de adaptação. Então, se você resolveu abrir sua vida a um peludo necessitado, tenha algumas coisas em mente:

Dê um tempo para ele

Você sabe que o resgatou e que ele terá uma boa vida daqui para frente, com toda a estrutura e amor, mas ele ainda não sabe disso. Alguns cães ficam bem logo, felizes e relaxados como se tivessem sido seus a vida toda, mas a maioria precisa de um tempo. Em geral ficam inseguros, quietos, distantes, ou ansiosos e agitados e alguns até ficam agressivos. Dê um tempo a ele. Um tempo para conhecer a casa, conhecer as pessoas, conhecer a rotina, os novos cheiros e tudo mais que vem junto com um novo dono. A melhor forma de fazer isso é tratá-lo com naturalidade, mas sem forçar muita intimidade por alguns dias. Dê comida, leve-o para passear e mantenha-o por perto, mas sem tentar fazer carinho ou pegar no colo o tempo todo. Se ele estiver tímido, jogue uns petiscos para ele e depois incentive-o a vir pegar outros na sua mão. Por outro lado, se ele só quiser ficar no colo, incentive sua independência, dê uma caminha para ele incentive-o a usá-la, deixe-o no chão e jogue os petiscos para ele. Se a família tem crianças, explique a elas a situação e que, por mais fofinho que o Rex seja, ele precisa de espaço para se adaptar. Daqui a um tempo, ele estará apto a brincar e correr tanto quanto elas quiserem. Em uma ou duas semanas ele vai perceber que está seguro, que existe uma rotina e vai relaxar.

Seja Constante

Lembre-se que para uma adaptação mais rápida, é importante que você seja constante em suas atitudes. O mesmo vale para as regras da casa. Se ele pode subir no sofá, pode sempre, e não só agora que acabou de chegar ou quando ele está cheiroso. Então o melhor é pensar bem em quais serão as regras daqui para frente desde o primeiro dia. Onde ele vai dormir? Onde vai comer? Pode subir na cama? No sofá? Pode pular nas pessoas? Pode latir na janela? Qual a hora de dormir? Quantos passeios ele fará por dia? Ele ganha comida da mesa? Resolva isso tudo e cumpra o que resolveu. Lembre-se que cada vez que você “não resiste” e faz uma concessão, não está fazendo um agrado para seu cão, e sim uma grande confusão na cabecinha dele. Regras são importantes para eles. Fazem com que se sintam seguros, com uma noção clara do que pode e o que não pode. A pior coisa para um cão é a dúvida.

Esqueça o passado

Cães têm uma enorme capacidade de fazer associações e aprender, usam causa e efeito para determinar seus gostos e aversões e para qualificar o mundo. Sendo assim, eles têm uma enorme capacidade de mudar e de viver no presente.

Mas para que isso aconteça, nós, humanos, temos que dar a eles a chance de mudar. Temos que esquecer o passado e focar no presente. Se cada vez que o Rex late para alguém na rua ou avança numa visita, ao invés de corrigi-lo e ensiná-lo a não fazer isso, eu penso: “coitadinho, ele foi maltratado no passado por isso não gosta de estranhos”, estou negando a ele a possibilidade de mudar, e eternizando um comportamento que o estressa. Já se eu o obrigo a se comportar bem na presença dessas pessoas e a ficar calmo, ele vai perceber que nada de mal acontece. Com algumas repetições desta situação, ele perceberá que estranhos não são mais perigosos, que ele pode relaxar na presença dele, e quem sabe até ganhar umas guloseimas.

Ou seja, a partir do momento em que levar seu novo amigo para casa, esqueça o passado e possíveis tristezas ou traumas. Cães não têm traumas, donos têm. Cães aprendem que uma situação foi ruim, mas podem reaprender e esquecer, basta ensinar. Foque no futuro. O que é preciso para que ele seja feliz daqui para frente? Exercício, socialização, convivência, segurança, carinho. Mostre a ele como deve se comportar em cada situação, mesmo que tenha que obrigá-lo a obedecer. Não dá para argumentar, nem para convencê-lo, tem que obrigar mesmo, de forma calma e firme, sem violência e com paciência. Saiba que é para o bem dele e ele logo perceberá isso também e esquecerá o passado.
Outra coisa importante é não tratá-lo como um “coitadinho” por conta de um passado difícil. Trate-o com amor, respeito e bom senso, mas da mesma forma que trataria um cão bem nascido e bem criado, que nunca teve um problema na vida. Justamente por ter tido um passado instável, ele precisa de segurança, estabilidade e liderança. Ele precisa ter certeza que de agora em diante está seguro, pois alguém cuida dele e mantém a vida sob controle. Não se permita viver com pena dele, protegendo e alimentando seus medos e neuroses. Pense que ele é um cão de sorte, afinal, achou você! Então ajude-o a esquecer o passado e festejar o lindo futuro que tem pela frente.
Invista na relação

Você já sabe que é o novo dono dele, mas ele ainda não, então invista na relação. Programe-se para ter tempo para caminhadas a dois todos os dias, com tempo para conversas e carinhos, quem sabe até uma água de coco. Se possível, procure aulas de obediência em grupo uma vez por semana. É um programa divertido que vai dar a você a chance de observá-lo em meio a outros cães e pessoas e corrigir os comportamentos inadequados que ele possa ter. Se a casa tem crianças, elas podem participar das aulas e aprender a melhor forma de se comunicar com ele. Treine um pouquinho em casa todos os dias e verá que a relação vai se fortalecer num instante.

Seja responsável

Por mais terrível que tenha sido a situação da qual um cão foi resgatado, se você tomou esta decisão, ele agora é sua responsabilidade, e para o resto da vida. Do momento em que você o adotou, tirou dele a chance de ser adotado por outra pessoa, então tem que dar a ele uma boa vida. Check-up veterinário, vermífugos, vacinas, exames, remédios e castração são responsabilidades suas e direitos dele. Pense bem antes de tomar a decisão. Não adote apenas porque entrou na onda de amigos ou campanhas de TV, é uma vida que está em jogo, vida esta que dependerá de você de agora em diante. A pior coisa que pode acontecer para um cão resgatado é um novo abandono ou ficar pulando de casa em casa, então pense bem. Você tem tempo? Espaço? Disposição? Recursos? Continuará tendo tudo isso num futuro próximo? Pense nisso antes de assumir a responsabilidade de dar um lar a um ser que dependerá totalmente de você.

Sejam felizes

Eu acredito que cães são anjos que foram colocados na Terra para tornar nossa existência mais fácil. Se um desses anjos cruzou seu caminho e seu coração disse “esse é meu!”, você é uma pessoa de sorte. A companhia de um cão deve trazer felicidade, deve ser uma solução e não um problema em nossas vidas. Siga as dicas acima e as outras espalhadas por nosso site e sejam felizes para sempre. Mostre a seu anjinho como ele deve se comportar no mundo dos homens para que ele se adapte e possa usufruir da sua companhia e de seus amigos em todos os momentos. Garanto que é tudo que ele mais deseja.

Daniela Prado
LordCão Treinamento de Cães

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